Entrevista com...
Alterwords
Chegados ao quarto número da nossa publicação, julgámos que seria a altura de conhecer melhor um dos seus elementos. E que melhor altura que quando um dos seus novos livros está em vias de nascer? Vejamos…
Bruno Pereira: Quando tomaste real noção do “bichinho da escrita” que crescia em ti?
Carla Ribeiro: Olhando para trás, tenho a impressão de que esse tal vício de escrever, estranho e compulsivo, sempre esteve algures dentro de mim. Penso, contudo, que a real tomada de consciência, que fez com ele crescesse de uma forma mais madura e saudável deverá ter acontecido por volta dos
meus catorze anos, quando comecei a escrever de forma mais constante e a dar conta de que as palavras que saíam tinham, realmente, um significado e uma ordem por detrás, uma mensagem a transmitir, fosse ela uma história a contar, ou apenas sentimentos que pediam para sair.
B.P.: Já tens vários livros publicados. Podes partilhar a um pouco da tua experiência?
C.R.: Publicar um livro é sempre um sonho e, por mais vezes que se repita, cada vez que vejo um trabalho meu passar à forma física, o livro palpável, que podemos manusear, olhar, percorrer, é como se uma nova parte de mim surgisse perante o mundo. Claro que dito assim tudo parece fantástico e perfeito, mas a verdade é que não é. Há sempre algum trabalho por trás. A dificuldade em encontrar uma editora, a
frustração das recusas, a desilusão quando descobrimos que aquilo que esperávamos quando publicamos não é bem o que acontece são barreiras que vão surgindo e que têm de ser ultrapassadas. Publicar um livro em Portugal não é fácil e há toda uma série
de obstáculos no caminho da literatura. Mas também não é impossível.
B.P.: Uma pergunta que costuma ser difícil para um autor, qual das tuas obras é a favorita?
C.R.:Realmente é uma pergunta difícil, porque todas elas têm uma parte de mim, uma parte diferente e única. Bem, mas a ter de escolher um, sem dúvida que o meu preferido é O Deus Maldito, até porque penso que, nesse livro, consegui passar de uma forma mais plena a mensagem que queria transmitir através da história. Há pessoas que pensam que o fantástico é apenas uma forma literária menor, porque não serve senão para entreter. Na verdade, não é bem assim. Nas personagens de ficção, sejam elas realistas ou puramente imaginárias, há sempre uma mensagem, um exemplo a seguir ou a evitar… Penso que foi nesse livro que melhor consegui expressar essa mensagem e, por isso, é por esse que tenho um carinho mais especial.
B.P.: Quais as tuas influências?
C.R.: Sou uma leitora compulsiva. Suponho que, se fosse a citar todos os autores que me inspiraram a passar para palavras o meu próprio mundo, seriam intermináveis os nomes. Contrariamente à maioria dos autores actuais, as vozes que me chamaram para a poesia foram essencialmente as dos clássicos: Florbela Espanca, Antero de Quental,
Bocage, Fernando Pessoa e, claro, Edgar Allan Poe, este também importante no meu fascínio pelo fantástico. No que toca à literatura fantástica, os grandes exemplos, para mim, são George R.R. Martin, Anne Bishop, Marion Zimmer Bradley, Jonathan Stroud, entre muitos outros.
B.P.: O que te inspira para escrever? Tens algum local especial?
C.R.: Dependendo do tema e da forma de escrita, vou buscar inspiração a toda a parte. Penso que se reflectem no que escrevo alguns dos laivos da minha forma de vida, aquilo que sinto, sou e aquilo em que acredito. Há também os aspectos do mundo em redor, momentos, pensamentos, ocasiões passadas na minha vida pessoal, mas também na história dos espaços que me rodeiam. E depois há a fantasia, as entidades mitológicas, o natural e o sobrenatural, a magia, as imagens fragmentadas dos sonhos. Tudo pode ser inspirador, no momento certo. Quanto a um lugar específico, de momento não posso dizer que tenha. Trago sempre um ou dois cadernos comigo, para o caso de a inspiração surgir, mas também é verdade que uma boa parte da saga Arasen foi escrita durante as longas horas passadas num ou outro café.
B.P.: Pensas que o mercado editorial vai modificar o suficiente para novos talentos terem o seu lugar?
C.R.: Gosto de acreditar que sim, ainda que não veja essa mudança como um acontecimento a curto prazo. Ainda estão muito presentes os preconceitos no mundo literário actual. Se a poesia segue um rumo mais clássico ou mais sentimental, é considerada menor, gasta ou ultrapassada. E na fantasia, esses preconceitos são ainda mais evidentes. Uma boa parte do meio literário classifica o fantástico como um género menor, mas o contrário também se verifica. No que se refere aos autores
nacionais, e isto verifica-se na fantasia, mas não só, parece existir no meio uma
espécie de dogma, segundo o qual o trabalho nacional é infantil ou de fraca
qualidade. E é por isso que, apesar de manter a esperança numa mudança
futura, creio que esse desenvolvimento demorará o seu tempo a manifestar
resultados visíveis.
B.P.: O que te levou a aceitar fazer parte do projecto “Alterwords”?
C.R.: Bem, antes de mais, o teu desafio! Na verdade, depois de umas quantas publicações com as quais colaboro, há muito tempo que sentia vontade de me
envolver mais activamente num projecto do género. Ainda mantenho, aliás, a ideia de avançar com uma ideia de revista online que eu tenho… mas que, para já, fica no segredo dos deuses. E a verdade é que a ideia por detrás da Alterwords, de divulgar a literatura de qualidade que, muitas vezes, é injustamente ignorada noutros meios, de abrir portas aos rostos desconhecidos do público, apela profundamente àquilo em que acredito e, obviamente, não podia recusar um projecto destes.
B.P.: Que planos tens para o futuro?
C.R.: Como sempre, tenho toda uma série de trabalhos em progresso, sem contar com a imensidade de textos que enchem a minha gaveta. Para além dos blogues onde escrevo habitualmente, estou, de momento, a trabalhar num novo livro de poesia (A Mensagem das Mãos), bem como num novo trabalho na área da fantasia (O Sangue dos Exilados). Também estou numa fase muito inicial de planeamento para um quinto livro da saga Arasen, e tenho toda uma série de ideias ainda em fase embrionária (com uma ou duas páginas já escritas). Em termos de trabalho pronto, está para breve o lançamento do
meu primeiro livro de contos, chamado “E Morreram Felizes para Sempre”, e, um pouco mais tarde, mas ainda este ano, de um novo livro de poesia, intitulado “Nómada”.
B.P.: Sabemos que acabaste de lançar um livro de poesia com a Susana Catalão. Onde o público geral o pode encontrar?
C.R.: A editora do nosso livro disponibiliza no seu site uma lista de locais onde podem encontrar os livros publicados por eles. (http://ediumeditores.wordpress.com/po
ntos-de-venda) Além disso, podem sempre entrar em contacto comigo ou com a Susana para adquirir o livro.
B.P.: Tens alguma mensagem para os leitores?
C.R.: Na verdade, a minha mensagem é muito simples. Leiam. Leiam muito, sem olhar a conceitos predefinidos ou a críticas alheias. Leiam o que vos interessa, o que vos fascina e o que vos canta ao coração. E, se têm ideias escondidas no pensamento ou na gaveta, não tenham medo de as mostrar ao mundo. O caminho não será fácil. Muitas vezes serão recusados, outras ignorados, outras ainda discriminados. Mas quando, finalmente, conseguirem alcançar o sonho, por mais simples que seja, verão que é a melhor sensação do mundo. Escrevam para a vossa própria mente. Escrevam para a gaveta, para blogs, para livros… para toda a parte! E claro, escrevam para a Alterwords! Nunca desistam de tornar os sonhos reais.
Texto Original:
Entrevista com Carla Ribeiro, feita por Bruno Pereira. Texto original da revista literária online Alterwords - edição 4.
Para saber mais sobre Carla Ribeiro acesse o site http://www.freewebs.com/carlaribeiro/
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